Inovação e Tecnologia da Informação
- Anísio Gonçalves dos Santos Júnior
Pós-graduado MBA Gestão de Negócios Ietec.
Resumo
Apesar da complexidade, geralmente atribuídas ao computador e à Tecnologia da Informação, uma necessidade premente norteia o mundo dos bits e bytes: A Inovação de se criar sistema e soluções focadas no indivíduo, como célula do conhecimento das organizações. Isso pode garantir não só o sucesso financeiro das empresas, como também a perpetuação de princípios, cultura e processos, mantendo colaboradores eficientes e clientes satisfeitos.
Neste contexto, ferramentas de colaboração podem humanizar a atuação dos profissionais de informática, agilizar os processos e disseminar o conhecimento organizacional. Sistemas de arquiteturas abertas podem facilitar a adaptação das empresas ao mercado e suas constantes mudanças. Porém, para a criação de produtos inovadores nesta área do conhecimento, são necessários investimentos das empresas em pesquisa e desenvolvimento como forma de mitigar o espírito inovador de seus colaboradores. Inovar nem sempre quer dizer criar e construir a roda. Muitas vezes inovar é utilizá-la de forma jamais feita, gerando benefícios ao criador e, antes de tudo a quem a utiliza.
Palavras-Chave: Inovação – Tecnologia – Gente – P&D
Introdução
A crescente corrida das empresas modernas para se manterem ágeis e rentáveis, tem transformado os investimentos em Tecnologia da Informação uma necessidade da qual não se pode fugir.
Manter negócios em escala global, aumentar vertiginosamente o número de clientes e parcerias, produzir, vender, controlar, distribuir, manter pessoas e capitais, depende mais do que nunca de tecnologias que tenham o poder de processar uma quantidade enorme de dados e disponibilizar informações estratégicas, capazes de definir o sucesso das organizações, com um simples ‘click’.
Para se ter eficiência, mas antes de tudo, eficácia, a agilidade é imprescindível, não importando o tamanho ou complexidade da empresa. Daí a crescente dependência das organizações na Tecnologia da Informação.
Porém, mesmo com a utilização extensiva da TI, não é garantido a estas empresas o crescimento. A conquista de novos mercados e clientes depende de fatores que diferenciem seus produtos e serviços da concorrência, concorrência esta que não pára, que busca incessantemente satisfazer os sonhos e anseios de seus clientes, atingir mercados e antes de tudo se repensar há todo momento.
1. Produzindo mais que Sistemas
Os sistemas de TI são elementos comuns a qualquer empresa moderna. Para impulsionar estas empresas, algo a mais se faz necessário neste cenário: A Inovação.
Segundo José Carlos Barbieri (2004):
A Inovação tecnológica pode ser entendida como uma invenção efetivamente incorporada aos sistemas produtivos. A distinção entre invenção e inovação se deve em grande parte à obra de Schumpeter. Para este autor a inovação é uma nova combinação de meios de produção e constitui um elemento central da economia; a invenção, se não for levada à prática, é irrelevante do ponto de vista econômico.
A tecnologia da informação representada pelos sistemas tais como, ERP (Enterprise Resource Planning), MRP (Material Resource Planning), e todos os ativos de infra-estrutura de TI, se tornaram commodites. Restam às empresas o uso e foco em sistemas diferenciados, desenvolvidos para se obter Inteligência de Negócios. O incentivo à Inovação na área de TI se torna uma necessidade para aquelas empresas que querem se manter na ponta de seus mercados. Em outras palavras a TI pode ser o sustentáculo da inovação necessária à formação das atuais empresas ‘Mutantes’, ‘Maleáveis’, ‘Adaptáveis’. Empresas estas que respondem com agilidade aos sinais do mercado antes identificados como ‘ameaças’, contudo, dotadas de ferramental estratégico-tecnológico, transformam estes impulsos em grandes ‘oportunidades’, dadas a sua capacidade de gerar idéias inovadoras.
Como cita em seu artigo ‘No Brasil, crise chega a PCs’, Silvio Meira (2008), cientista-chefe do C.E.S.A.R , sobre a atual crise financeira nos EUA e seus riscos em atingir o restante do mundo:
(…) Crises são grandes oportunidades. Sempre. Crises de muito grande porte, como esta, são oportunidades fantásticas. Dólar alto, falta de crédito e investimentos, novos e importantes componentes e modelos de negócios, mais internet… estão mudando o modo de ver o mundo. E de fazê-lo funcionar. Há o exemplo dos Netbooks, computadores pessoais bem mais enxutos, que estavam se tornando uma febre no mundo rico como segundo ou terceiro pc de alguém. No nosso mundo, e servindo de mecanismo de acesso a serviços em rede, bem que poderão se tornar o primeiro [e único] sintonizador da internet nas casas de mais baixa renda. Isso enquanto não tivermos 3G em escala universal e o acesso pessoal, à rede, através de uma nova geração de celulares do tipo ‘Android’. E estas são apenas duas das possibilidades ao nosso redor.
Ao invés de ficarmos paralisados pela crise, esperando o mundo se acabar, é hora de começar a antever, portanto, construir o que vai existir depois da crise. Sem ignorar, como alguns queriam, que há uma grande crise ao redor e aqui. Mas sabendo que ela vai passar. E vai haver mercados, problemas, oportunidades, trabalho, clientes, usuários, investimentos… Do outro lado do que hoje parece, pra muita gente, um fim do mundo. Empreendedorismo de verdade trata crise como oportunidade. Sempre. A crise de nossos tempos é a oportunidade de nossos tempos.
Na área de tecnologia, às vezes a inovação surge de algo que, paradoxalmente, não é totalmente novo. ‘Plugar’ velhas idéias de uma forma jamais feita, portanto inovadora, pode representar um fator de sucesso jamais alcançado. São exemplos: o Ipod, o Iphone, o projetor LCD em celulares, a própria internet, criada originalmente como uma rede militar e acadêmica.
No Brasil as empresas de TI têm alcançado êxito na criação de produtos (sistemas) inovadores. Porém, o país ainda tem um baixo índice na criação de patentes de novos produtos.
A inovação aberta pode mudar o Brasil. O país já tem um grande capital intelectual gerado por centros e universidade, basta que as empresas captem isso. É o que afirmou à Revista Época, Bruno Rondani, diretor da Allagi Consultoria e organizador do Open Innovation Seminar, realizado em São Paulo em junho de 2008.
2. Tecnologia e Gente
Com tudo isso, vale salientar uma questão que nem sempre é pesada com o devido cuidado na criação de tecnologias. Mais especificamente, na criação de produtos recheados de tecnologia, para os quais o alvo principal é, ou deveria ser, as pessoas.
Assim como na natureza, têm sucesso os seres que melhor se adaptam às mudanças. Eu diria que para geração de tecnologias inovadoras, cabe àqueles que as criam, melhor pensar na usabilidade e aplicabilidade para aqueles que as utilizarão e a adaptabilidade destas ferramentas às constantes mudanças, comuns no mundo atual. Isso em todas as esferas. Seja para produtos e serviços destinados às grandes corporações, ou mesmo, aqueles orientados aos indivíduos. Desviar-se da tecnocracia exagerada e pensar no ‘ser’, pode ser um fator de sucesso e realmente de inovação.
É bem comum na área de tecnologia, a criação de produtos tecnicamente perfeitos, porém, que não atendem àqueles para os quais ele foi concebido: as pessoas. Ou mesmo ao princípio humano de sucesso. O produto tecnológico deve ser a ferramenta que facilite aquilo que pode parecer difícil, simplifique o complexo, e, em uma visão contemporânea, abra portas ao sucesso de pessoas e organizações, possibilitando àqueles que às utilizam obterem informações rápidas, precisas e integradas.
Inovar é gerar meios que acompanhem a velocidade das coisas, preservando as pessoas. Oferecendo-as meios que as possibilitem exercer suas atividades, crescentes em quantidade, de forma crescente em humanidade. É, porque não, permitir a cooperação entre indivíduos como forma de distribuir a enormidade de atividades demandas no dia-a-dia de uma empresa, preservando o tempo do ser humano e sua saúde, resguardando assim a produtividade e longevidade das organizações, baseada na preservação do seu capital intelectual, satisfação de seus clientes e manutenção do conhecimento corporativo.
A TI em muito poderá colaborar com este processo, criando ferramentas de colaboração entre indivíduos, permitindo a divulgação de conhecimento e a cooperação na execução de tarefas que exijam a participação multidisciplinar destes indivíduos. As empresas do futuro utilizarão destas ferramentas de forma a garantir a continuidade do conhecimento corporativo e dos processos dependentes deste conhecimento, ganhando agilidade na operação e reação às tendências de mercado, tão vital a sobrevivência das empresas nos dias de hoje.
Porém, para este cenário se torne realidade, empresas e governo devem investir cada vez mais em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), acreditando sempre que o maior valor que se pode agregar a produtos e serviços, sem dúvida alguma é o ‘Conhecimento’. Sem mecanismos da iniciativa público/privada que suportem e incentivem a busca do conhecimento, pouco se caminha na geração de idéias inovadoras.
3. Mitigando a Inovação no Brasil
Com o objetivo de criar instrumentos de apoio a projetos, com vistas à inovação tecnológica, o governo federal e alguns governos estaduais têm oferecido incentivos à cooperação entre empresas, universidades e institutos de pesquisa, como instrumentos que exigem a participação de instituições de ensino e pesquisa em projetos de parceria. Alguns destes instrumentos são recentes, como a Lei de Inovação e a nova lei de incentivos fiscais para P&D, cuja operacionalização eficaz poderá contribuir para o aumento das inovações na indústria brasileira.
O Brasil tem um grande déficit no que diz respeito ao número de pesquisadores em relação à população economicamente ativa. São apenas 1,5 pesquisadores por 1.000 pessoas. Como exemplo pode-se comparar este número com a Coréia do Sul, 4,6 e ao do Canadá, 5,8. É o que afirma SBRAGIA (2008).
Para crescimento dos números apresentados, cabe às empresas buscar recursos e parcerias com centros de pesquisas, fazendo-se uso de programas já existentes, principalmente aqueles patrocinados pelo MCT (Ministério de Ciência de Tecnologia), cujos recursos financeiros são repassados principalmente por suas agências FINEP e CNPq.
Existem também incentivos fiscais suportados pelos Programas de Desenvolvimento Tecnológico Industrial e Agropecuário (PDTI/PDTA), constantes na Lei 11.196/05.
Complementarmente existem várias leis e programas federais e estaduais que incentivam:
- Financiamentos (FINEP e BNDES);
- Bolsas;
- Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas;
- Fundações Estaduais de Incentivo à Pesquisa;
- Incentivos à Parceria entre Empresas e Institutos e Centros de Pesquisa;
- Fundos com recursos não reembolsáveis (Funtec);
- Programa de Capacitação de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas em Apoio à Inovação Tecnológica (RHAE-Inovação);
- Fundo Inovar Semente, para apoiar novos empreendimentos tecnológicos;
- Incentivos Fiscais (Ex: Informática e Automação e P&D Industrial);
- Leis de redução do IPI para empresas que investem em P&D;
- Lei de incentivo ao registro de Patentes;
- Fundos Setoriais;
- Programa Pite (SP);
- Programas de difusão de tecnologias;
- Sebraetec;
- Progex. Programa de apoio a MPEs que querem se tornar exportadoras;
- Prumo – Projeto Unidades Móveis de Atendimento Tecnológico;
- Lei da Inovação (11.196/05 de 21 de novembro de 2005)
Conclusão
Fugindo ao paradigma que associa a tecnologia às máquinas e processos, cabe ao profissional de P&D e de tecnologia, a soma de uma componente imprescindível, não somente como o elemento que a constrói e utiliza, mas como a fonte de todo o conhecimento e responsável pela materialização de sonhos: O ser humano.
Com a era da informação, a virtualização se tornou moda. Embutir nas máquinas conceitos abstratos não visíveis e palpáveis, por muito tempo representou a solução de problemas complexos capazes de suportar o crescimento explosivo das empresas. Porém, o modelo de soluções baseados em problemas não atende às demandas atuais. O bom funcionamento de sistemas é uma obrigação orgânica que deve acompanhar qualquer produto e/ou serviço tecnológico.
As empresas de nossos dias devem enxergar o futuro com visão cada vez mais distante. Antecipar, visualizar ‘gaps’ não atendidos e sequer percebidos por seus clientes e parceiros. Criar, baseados nas necessidades explícitas, e principalmente, implícitas, ocultas nas necessidades das pessoas. Utilizar criativamente oportunidades latentes a serem desvendadas pela inventividade humana, provinda de seu conhecimento colaborativo e incentivadas pelas instituições, todas estas como bases indispensáveis da Inovação.
Referências Bibliográficas
BARBIERI, José Carlos. Organizações Inovadoras: Estudos E Casos Brasileiros. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2004.
MEIRA, Sílvio. No Brasil, crise chega aos PCs. C.E.S.A.R, 2008.
RONDANI, Bruno. A inovação aberta pode mudar o Brasil. Época Negócios, São Paulo. 2008.
SBRAGIA, Roberto. Inovação: Como vencer este desafio empresarial. São Paulo: Clio Editora, 2006.
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